sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Delicadeza

Duplicação bucólica da vida

À flor de Nicoli


As nuvens de algodão.
Os passarinhos de papel.
As bonecas de retalho
e o amor no caderno
colorido e puro e necessário.


Ninguém sabe dizer eu sei
e quando sabe, diz eu errei?
Mas será que não aprende?
Ou vai me dizer que não quer?

Como minhas borboletas reais,
minhas mentiras se tornam verdadeiras
e quase ninguém duvida de quem sou,
se sou filha, se sou pai ou mãe,
durmo no sonho de uma cama limpa,
sem ninguém torturar formigas
para saber a verdade,



aí vem a linha costurar o rasgado
vestido que Victória esqueceu no varal
dos sonhos que ninguém sonhou,
das brincadeiras que alguém brincou,
e depois deitar, sem nada desejar,
senão viver um rabisco
no papel da vida.

sábado, 5 de março de 2011

Devaneio real




Uma gota despistou meus olhos,
tão rápida que o instante se tornara hora
enxaguada de minutos a fio.
Um perfume, uma cor, uma imagem, talvez...
A mistura de tudo isso se mostraria
menos compreensível para uma mente
desfigurada de entendimento simples.

Uma rua cruzou meu corpo na escuridão
fria, perturbadora, constante,
numa mistura de ilusão real
com realidade imaginária:
sua mão tocou a sombra da existência
morta que me foi dada.

Tenra como o sono,
deleitosa como um abraço nu
e nefasta como a despedida,
a saudade – pior dor física –,
é a tua imagem que se vai por entre os sonhos,
pelos dedos do tempo, pela miragem
dos meus antigos olhos.

por Ubiratan Sá

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O que não se diz


À Clarice


Tudo vai para onde
os olhos se cerram e a boca se cala.
O último suspiro. A última fala.
A ida ao bar. Ao lago mal visitado.
A discussão idílica,
que sempre termina
em pequenos barulhos afáveis.

A última pétala arrancada do lírio.
Da rosa. Do jasmim.
De tudo que floresça.
É para o silêncio que vão.
As desculpas perdoadas,
os pedidos não respondidos
nem sequer pedidos.

O beijo fúnebre que fica na testa fria.
As falhas, os acertos que restam
ser  falhadas e acertados.
O passeio com os filhos.
Com os pais. Com os netos.
Com a solidão.

O final de um poema, ou de um conto,
de uma Clarice ou de um Vinícius
descamba no silêncio. É assim.
Nada há que não para ele,
para a efervescência calada,
para a escuridão habitável,
para o prazer mais sugestivo,
para  o outro lado da voz.

A Verdade silencia a mentira.
É para soar que as coisas existem,
embora seja a calma que elas cobicem.
Os relativos atropelos do som
associam confusão à normalidade.
Sossego – desvario do mundo – derrama
a saudade em pingos de silêncio.

Autor supostamente conhecido

sábado, 13 de novembro de 2010



O Último Pôr-do-sol
 
A onda ainda quebra na praia,
Espumas se misturam com o vento.
No dia em que ocê foi embora,
Eu fiquei sentindo saudades do que não foi
Lembrando até do que eu não vivi
pensando nós dois.

Eu lembro a concha em seu ouvido,
Trazendo o barulho do mar na areia.
No dia em que ocê foi embora,
Eu fiquei sozinho olhando o sol morrer
Por entre as ruínas de santa cruz lembrando nós dois

Os edifícios abandonados,
As estradas sem ninguém,
Óleo queimado, as vigas na areia,
A lua nascendo por entre os fios dos teus cabelos,
Por entre os dedos da minha mão passaram certezas e dúvidas

Pois no dia em que ocê foi embora,
Eu fiquei sozinho no mundo, sem ter ninguém,
O último homem no dia em que o sol morreu.

Lenine

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Às vezes, não se pode silenciar diante da dor

 

Cut

I'm not a stranger
No I am yours
With crippled anger
And tears that still drip sore
A fragile flame aged
Is misery
And when our hearts meet
I know you see
I do not want to be afraid
I do not want to die inside just to breathe in
I'm tired of feeling so numb
Relief exists I find it when
I am cut
I may seem crazy
Or painfully shy
And these scars wouldn't be so hidden
If you would just look me in the eye
I feel alone here and cold here
Though I don't want to die
But the only anesthetic that makes me feel anything kills inside
I do not want to be afraid
I do not want to die inside just to breathe in
I'm tired of feeling so numb
Relief exists I find it when
I am cut
Pain
I am not alone
I am not alone
I'm not a stranger
No I am yours
With crippled anger
And tears that still drip sore
But I do not want to be afraid
I do not want to die inside just to breathe in
I'm tired of feeling so numb
Relief exists I found it when
I was cut

Ferida

Eu não sou um desconhecido
Não, eu sou seu
Com raiva aleijada
E lágrimas que ainda gotejam feridas

Uma flama frágil envelhecida
É miseravel
E quando nossos corações se encontram
Eu sei que você vê

Eu não quero estar receoso
Eu não quero morrer por dentro para respirar
Eu estou cansado de me sentir tão entorpecido
O alívio existe. eu o encontro quando
Eu estou ferido

Eu posso parecer louco
Ou dolorosamente tímido
E estas cicatrizes não seriam escondidas assim
Se você me olhar apenas nos olhos
Eu sinto solidão e frio aqui
Embora eu não queira morrer
Mas o único anestésico que me faz sentir bem, mata por dentro

Eu não quero estar receoso
Eu não quero morrer por dentro para respirar
Eu estou cansado de me sentir tão entorpecido
O alívio existe. eu o encontro quando
Eu estou ferido
Dor
Eu não estou sozinho
Eu não estou sozinho

Eu não sou um desconhecido
Não, eu sou seu
Com raiva aleijada
E lágrimas que ainda gotejam certamente

Mas eu não quero estar receoso
Eu não quero morrer por dentro para respirar
Eu estou cansado de me sentir tão entorpecido
O alívio existe, eu o encontrei quando
Eu estava ferido

Plumb - Cut - Soundtrack of The Vampire Diaries

domingo, 26 de setembro de 2010

Resíduo

De tudo ficou um pouco
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco

Ficou um pouco de luz
captada no chapéu.
Nos olhos do rufião
de ternura ficou um pouco
(muito pouco).

Pouco ficou deste pó
de que teu branco sapato
se cobriu. Ficaram poucas
roupas, poucos véus rotos
pouco, pouco, muito pouco.

Mas de tudo fica um pouco.
Da ponte bombardeada,
de duas folhas de grama,
do maço
- vazio - de cigarros, ficou um pouco.

Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.

Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.

Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
um pouco de mim algures?
na consoante?
no poço?

Um pouco fica oscilando
na embocadura dos rios
e os peixes não o evitam,
um pouco: não está nos livros.

De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma torneira
pinga esta gota absurda,
meio sal e meio álcool,
salta esta perna de rã,
este vidro de relógio
partido em mil esperanças,
este pescoço de cisne,
este segredo infantil...
De tudo ficou um pouco:
de mim; de ti; de Abelardo.
Cabelo na minha manga,
de tudo ficou um pouco;
vento nas orelhas minhas,
simplório arroto, gemido
de víscera inconformada,
e minúsculos artefatos:
campânula, alvéolo, cápsula
de revólver... de aspirina.
De tudo ficou um pouco.

E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.

Mas de tudo, terrível, fica um pouco,
e sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis
e sob as labaredas e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito
e sob o soluço, o cárcere, o esquecido
e sob os espetáculos e sob a morte escarlate
e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes
e sob tu mesmo e sob teus pés já duros
e sob os gonzos da família e da classe,
fica sempre um pouco de tudo.
Às vezes um botão. Às vezes um rato.

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A VERDADE ESTÁ NA CARA, MAS NÃO SE IMPÕE.

O que foi que nos aconteceu?
No Brasil, estamos diante de acontecimentos inexplicáveis, ou melhor, 'explicáveis' demais.
Toda a verdade já foi descoberta, todos os crimes provados, todas as mentiras percebidas.
Tudo já aconteceu e nada acontece. Os culpados estão catalogados, fichados, e nada rola.

A verdade está na cara, mas a verdade não se impõe. Isto é uma situação inédita na História brasileira!!!!!!!
Claro que a mentira sempre foi a base do sistema político, infiltrada no labirinto das oligarquias, mas nunca a verdade foi tão límpida à nossa frente e, no entanto, tão inútil, impotente, desfigurada!!!!!!!!

Os fatos reais: com a eleição de Lula, uma quadrilha se enfiou no governo e desviou bilhões de dinheiro público para tomar o Estado e ficar no poder 20 anos!!!!

Os culpados são todos conhecidos, tudo está decifrado, os cheques assinados, as contas no estrangeiro, os tapes, as provas irrefutáveis, mas o governo psicopata de Lula nega e ignora tudo !!!!!

Questionado ou flagrado, o psicopata não se responsabiliza por suas ações. Sempre se acha inocente ou vítima do mundo, do qual tem de se vingar. O outro não existe para ele e não sente nem remorso nem vergonha do que faz !!!!!

Mente compulsivamente, acreditando na própria mentira, para conseguir poder. Este governo é psicopata!!! Seus membros riem da verdade, viram-lhe as costas, passam-lhe a mão nas nádegas. A verdade se encolhe humilhada, num canto. E o pior é que o Lula, amparado em sua imagem de 'povo', consegue transformar a Razão em vilã, as provas contra ele em acusações 'falsas', sua condição de cúmplice e Comandante em 'vítima'!!!!!

E a população ignorante engole tudo.. Como é possível isso?
Simples: o Judiciário paralítico entoca todos os crimes na Fortaleza da lentidão e da impunidade. Só daqui a dois anos serão julgados os indiciados - nos comunica o STF.
Os delitos são esquecidos, empacotados, prescrevem. A Lei protege os crimes e regulamenta a própria desmoralização Jornalistas e formadores de opinião sentem-se inúteis, pois a indignação ficou supérflua. O que dizemos não se escreve, o que escrevemos não se finca, tudo quebra diante do poder da mentira desse governo.
Sei que este é um artigo óbvio, repetitivo, inútil, mas tem de ser escrito...
Está havendo uma desmoralização do pensamento.

Deprimo-me:
Denunciar para quê, se indignar com quê? Fazer o quê?'
A existência dessa estirpe de mentirosos está dissolvendo a nossa língua. Este neo-cinismo está a desmoralizar as palavras, os raciocínios. A língua portuguesa, os textos nos jornais, nos blogs, na TV, rádio, tudo fica ridículo diante da ditadura do lulo-petismo.

A cada cassado perdoado, a cada negação do óbvio, a cada testemunha, muda, aumenta a sensação de que as idéias não correspondem mais Aos fatos!!!!!
Pior: que os fatos não são nada - só valem as versões, as manipulações.
No último ano, tivemos um único momento de verdade, louca, operística, grotesca, mas maravilhosa, quando o Roberto Jefferson abriu a cortina do país e deixou-nos ver os intestinos de nossa política.

Depois surgiram dois grandes documentos históricos: o relatório da CPI dos Correios e o parecer do procurador-geral da república. São verdades cristalinas, com sol a Pino.

E, no entanto, chegam a ter um sabor quase de 'gafe'.

Lulo-Petistas clamam: 'Como é que a Procuradoria Geral, nomeada pelo Lula, tem o desplante de ser tão clara! Como que o Osmar Serraglio pode ser tão explícito, e como o Delcídio Amaral não mentiu em nome do PT ? Como ousaram ser honestos?'
Sempre que a verdade eclode, reagem.

Quando um juiz condena rápido, é chamado de exibicionista'. Quando apareceu aquela grana toda no Maranhão (lembram, filhinhos?), a família Sarney reagiu ofendida com a falta de 'finesse' do governo de FH, que não teve a delicadeza de avisar que a polícia estava chegando....
Mas agora é diferente.
As palavras estão sendo esvaziadas de sentido. Assim como o stalinismo apagava fotos, reescrevia textos para contestar seus crimes, o governo do Lula está criando uma língua nova, uma neo-língua empobrecedora da ciência política, uma língua esquemática, dualista, maniqueísta, nos preparando para o futuro político simplista que está se consolidando no horizonte.

Toda a complexidade rica do país será transformada em uma massa de palavras de ordem, de preconceitos ideológicos movidos a dualismos e oposições, como tendem a fazer o Populismo e o simplismo.

Lula será eleito por uma oposição mecânica entre ricos e pobres, dividindo o país em 'a favor' do povo e 'contra', recauchutando significados que não dão mais conta da circularidade do mundo atual. Teremos o 'sim' e o 'não', teremos a depressão da razão de um lado e a psicopatia política de outro, teremos a volta da oposição Mundo x Brasil, nacional x internacional e um voluntarismo que legitima o governo de um Lula 2 e um Garotinho depois.

Alguns otimistas dizem: 'Não... este maremoto de mentiras nos dará uma fome de Verdades'!

Arnaldo Jabor


 Crítica Vetada e Sensurada de Arnaldo Jabor
Leia o comentário de Dora Kramer, Estadão de Domingo:

 
'A decisão do TSE que determinou a retirada do comentário de Arnaldo Jabor do site da CBN, a pedido do presidente 'Lula' até pode ter amparo na legislação eleitoral, mas fere o preceito constitucional da liberdade de imprensa.

'Não deixem de ler e reler o texto abaixo e passem adiante'!

domingo, 22 de agosto de 2010

Quem disse que sonhar é pecado?

O sonho

Sonhe com aquilo que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades
que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passaram por suas vidas.


Clarice Lispector