À Clarice
Tudo vai para onde
os olhos se cerram e a boca se cala.
O último suspiro. A última fala.
A ida ao bar. Ao lago mal visitado.
A discussão idílica,
que sempre termina
em pequenos barulhos afáveis.
A última pétala arrancada do lírio.
Da rosa. Do jasmim.
De tudo que floresça.
É para o silêncio que vão.
As desculpas perdoadas,
os pedidos não respondidos
nem sequer pedidos.
O beijo fúnebre que fica na testa fria.
As falhas, os acertos que restam
ser falhadas e acertados.
O passeio com os filhos.
Com os pais. Com os netos.
Com a solidão.
O final de um poema, ou de um conto,
de uma Clarice ou de um Vinícius
descamba no silêncio. É assim.
Nada há que não para ele,
para a efervescência calada,
para a escuridão habitável,
para o prazer mais sugestivo,
para o outro lado da voz.
A Verdade silencia a mentira.
É para soar que as coisas existem,
embora seja a calma que elas cobicem.
Os relativos atropelos do som
associam confusão à normalidade.
Sossego – desvario do mundo – derrama
a saudade em pingos de silêncio.
Autor supostamente conhecido
Muito bom o texto!
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